Nas páginas de Libération desta quarta-feira (25), um
grande artigo da correspondente do jornal em São Paulo denuncia a negligência
política no Brasil após o "tsunami de lama" que destruiu Bento
Rodrigues, no distrito de Marina, e provocou um desastre ambiental no país. O
diário critica a reação das autoridades brasileiras após a catástrofe.
O artigo de Libération começa afirmando que esta é a
pior catástrofe ecológica da história do Brasil. Orompimento das duas barragens da Samarco em Mariana, no dia 5 de novembro, matou oito pessoas e provocou uma
gigantesca onda de lama que atingiu centenas de quilômetros, desceu pela bacia
do Rio Doce, antes de poluir também o oceano Atlântico.
Ao todo, meio milhão de pessoas foram afetadas por este
"tisunami marrom". O impacto do desastre no ecossistema ainda é
difícil de ser avaliado, mas ele será devastador, resume o diário, que ouviu
vários ambientalistas. Eles temem um efeito esponja da lama que é capaz de
levar outros poluentes às águas e até de secar os rios.
Lobby
das mineradoras
O Rio Doce, o quinto maior rio do Brasil, foi
inteiramente contaminado, centenas de peixes morreram, e a biodiversidade
levará anos para se recuperar. As consequências vão depender da composição
química da lama que a Samarco garante não ser tóxica, mas teima em não revelar
a composição dos resíduos. "Mas quem acredita ainda na Samarco?",
pergunta o jornal.
Essa catástrofe era previsível. As gigantes BHP e a Vale,
donas da mineradora, foram negligentes, afirma Libération, citando a
procuradora da República Sandra Cureau. O artigo também critica as autoridades
brasileiras. Há anos o código de mineração brasileiro, que já não é muito
rígido, é torpedeado pelo importante lobby das mineradoras que financiaram as
campanhas eleitorais de vários políticos, a começar pela presidente Dilma
Rousseff, que tardou a visitar o local do acidente, e pelo governador de Minas,
Fernando Pimentel, revela o texto.