Desde que a delação dos irmãos Batista veio a público, os
analistas de mercado financeiro se calaram. A justificativa é que os
indicadores da JBS teriam “virado pó”. Não é apenas o futuro da empresa que é
considerado incerto. Pelo que foi narrado pelos próprios controladores, o
passado tornou-se nebuloso, dado que ainda não é possível definir se os
esquemas de corrupção distorceram os resultados anteriores. Mas há um dado
concreto para todos: a JBS tem um buraco de R$ 8 bilhões para cobrir neste ano.
Vencem,
agora em 2017, R$ 18 bilhões em dívidas de curto prazo – quase um terço da
dívida de R$ 58,4 bilhões do grupo, um montante considerado bastante elevado. A
empresa tem a opção de usar o caixa, abastecido por R$ 10 bilhões, mas precisa
correr contra o tempo para conseguir o restante. Mergulhada em seus próprios
relatos de ilegalidades, prestando contas a órgãos reguladores no Brasil e nos
Estados Unidos, negociando multas bilionárias e sofrendo pressão dos políticos
que denunciou, dificilmente terá socorro de bancos, públicos ou privados, ou
credibilidade para captar no mercado. Terá de recorrer a medidas emergenciais,
afirmam analistas.
Estratégia. Ciente do tamanho da encrenca, antes
mesmo de a delação vir a público, a JBS montou uma estratégia para se
resguardar. Parou de comprar bois à vista. A mudança desagradou aos
pecuaristas, mas o pagamento a prazo para a gigantesca estrutura de abate da
JBS segura no caixa R$ 1 bilhão por mês, aliviando a necessidade de capital de
giro. O próximo passo, projetam consultores do setor, é o grupo começar a
encolher. “A expectativa é que a JBS venda ativos, abrindo mão, num primeiro
momento, de negócios que não são ligados à carne”, diz José Carlos Hausknecht,
sócio da MB Agro Consultoria.
Alexa Salomão e Josette Goulart - O Estado de S.Paulo