O que vem atrasando o governo federal em sua tarefa primordial de fazer
o dinheiro chegar rapidamente às mãos dos brasileiros mais pobres ainda é um
pequeno mistério. O presidente Jair Bolsonaro assegurou nesta quinta-feira (2)
que se começará a pagar na semana que vem o “coronavoucher”, apelido dado ao
auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais, autônomos,
microempreendedores individuais e outros afetados pelos efeitos da pandemia da
Covid-19.
O
problema é que até o momento desta declaração, ele já havia demorado 48 horas
para sancionar a medida, apesar da pressão do Congresso e de setores da
sociedade civil. Finalmente assinou, mas que demorou, demorou. E agora que
finalmente houve a sanção presidencial, as hesitações do governo, que esbarram,
em parte, na burocracia anacrônica vigente no País, ainda revelam a
inexperiência da atual equipe econômica numa matéria para a qual sabidamente
ela não tem experiência – a de transferir renda. Sabe-se que o Bolsa Família
reúne 14 milhões de brasileiros, com dados fundamentais como o CPF, entre
outros.
Por que
já não se começou o trabalho por aqui, é uma boa pergunta. Mas há ainda 35
milhões, dos quais pelo menos 11 milhões o governo não sabe por onde andam.
Depois de realizar o expurgo de ONGs que exerciam a conexão com parte desses
bolsões de pobreza – alguns até com razão, pois desviavam recursos -, o fato é
que a equipe econômica não estava preparada para desempenhar essa magnífica
tarefa.
“É como
um time de craques do futebol sendo convocado para jogar baquete”, descreveu um
jornalista esta semana. Depois de anunciar bilhões de investimento na economia,
descobriu-se que alguns anúncios foram repetidos e cifras sobrepostas, o quer
confundiu até os mais experientes analistas desse tipo de número.
Mas
dinheiro que é bom, até agora, nada – embora prazos corretos para as liberações
já fosse um bom começo. O tsunami do coronavírus varreu todos os planos da
equipe econômica. Em seu primeiro ano, o governo Bolsonaro se beneficiou muito
da herança deixada pela reforma trabalhista levada a cabo no governo Michel
Temer, extensiva ao campo previdenciário, pode-se dizer assim. Contudo, nem
antes da pandemia, frise-se, as coisas para o atual governo não vinham
exatamente bem, embora pragmaticamente o ministro Paulo Guedes tenha obtido
vitórias, reduzido o rombo fiscal deixado pela era Dilma Rousseff. Era algo do
qual o atual governo se orgulhava até ser colhido pelas ondas gigantescas da
pandemia.
Agora que
não há mais retorno possível, é bom que o governo se adapte rapidamente ao novo
momento.
Mas que
vai ser difícil, ah vai.
Agora RN