© José Cruz/Agência Brasil O jurista Miguel Reale Júnior |
O
jurista Miguel Reale Jr afirmou que o
presidenteJair Bolsonaro cometeu um crime
de responsabilidade ao proferir uma ofensa de cunho sexual contra uma
jornalista da Folha de S.Paulo nesta terça-feira, 18. Na opinião de Reale Jr, a
forma como Bolsonaro se referiu à repórter Patrícia Campos Mello fere o decoro
presidencial e permite que um processo de impeachment seja aberto contra ele.
“Bolsonaro desrespeitou a jornalista, a mulher e o ser humano. É algo que
ofende mais profundamente a dignidade humana, e não só o decoro. Sem dúvida,
isso se enquadra como crime de responsabilidade”, afirmou.
Reale Jr foi um dos
responsáveis pelos pedidos de impeachment contra os ex-presidentes Fernando
Collor e Dilma Rousseff. O jurista disse que essa não foi a primeira vez que
Bolsonaro se comportou em desacordo com o exercício da Presidência. “Mas,
agora, ele rompeu com todos os limites. De forma afrontosa, rompeu com o que se
exige de qualquer pessoa, e não só de um Presidente da República. Foi asquerosa
a menção chula que ele fez ao dizer que a jornalista quis dar o furo.”
A Folha de S.Paulo, em
nota, disse que ao ofender a jornalista com uma insinuação sexual, Bolsonaro
vilipendiou “a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da
Presidência”. O texto se refere à lei de número 1.079, que trata dos crimes
contra a probidade na administração cometidos por quem estiver no exercício da
Presidência da República.
A
posição de Reale Jr vai na contramão do que disse a deputadaJanaína Paschola (PSL-SP), que também
assinou o pedido de cassação de Dilma Rousseff. Para Janaína, a fala é mais uma
grosseria do presidente, mas não é
motivo para impeachment. “Para tirar o mandato de um presidente precisa de
muito. Ele foi eleito com esse estilo sabidamente grosseiro. Não tem sentido
afastá-lo por isso. Seria desproporcional.”
Embora veja a possibilidade
de Bolsonaro perder o mandato, Reale Jr disse que não formulará nenhuma
representação contra o presidente. “Já redigi o [pedido de impeachment] do
Collor e o da Dilma. Agora quero assistir ao do Bolsonaro.”
Bolsonaro explorou uma informação falsa que
um depoente prestou na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake
News para afirmar que a jornalista Patrícia Campos Mello “queria dar o furo a
qualquer preço contra mim”.
No jargão jornalístico, a
expressão “dar o furo” significa publicar uma informação exclusiva antes de
outros veículos. No caso, Bolsonaro fez menção ao depoimento que Hans River do
Rio Nascimento deu à CPMI na semana passada. Ex-funcionário da empresa de marketing
digital Yacows durante a campanha eleitoral de 2018, Hans River declarou que
Patrícia procurava “um determinado tipo de matéria a troco de sexo”. Ele não
apresentou nenhuma prova que corroborasse a afirmação.
Patrícia foi autora de uma
reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, em dezembro de 2018, que denunciava
a ação de uma rede de empresas, incluindo a Yacows, em um esquema fraudulento
de disparo de mensagens pelo aplicativo WhatsApp em favor de políticos.
Nesta terça-feira,
Bolsonaro declarou: “Olha a jornalista da Folha de S.Paulo. Tem mais um vídeo
dela aí. Não vou falar aqui porque tem senhoras aqui do lado. Ela falando: ‘Eu
sou (…) do PT’, certo? O depoimento do Hans River, foi final de 2018 para o
Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele”, afirmou.
“Ela [repórter] queria um
furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim [risos de Bolsonaro e
dos presentes]. Lá em 2018 ele [Hans] já dizia que ele chegava e ia
perguntando: ‘O Bolsonaro pagou pra você divulgar pelo Whatsapp informações?’ E
outra, se você fez fake news contra o PT, menos com menos dá mais na
matemática, se eu for mentir contra o PT, eu estou falando bem, porque o PT só
fez besteira”, declarou o presidente.
O depoimento falso de Hans
River já havia sido compartilhado pelo filho caçula do presidente, o deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em manifestações no Congresso e por meio de
redes sociais. VEJA, em sua última edição, publicou uma Carta ao Leitor sobre o
caso. Leia a íntegra
aqui.
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