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Caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva seja condenado mais uma vez pela Justiça e seja impedido de se
candidatar a presidente neste ano, ele será um cabo eleitoral ainda mais
influente do que já foi no passado, disse ao Broadcast Político o
analista político Aldo Fornazieri, professor da Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo (Fesp) e autor do livro As crises da esquerda (2017,
Civilização Brasileira). Na opinião do professor, a falta de provas claras
contra o petista vai se traduzir em maior mobilização dos eleitores a favor do
nome que seria apoiado pelo ex-presidente na campanha. Confira os principais
trechos da entrevista:
O senhor concorda com a afirmação
de que Lula terá uma influência forte na eleição, independentemente do
resultado do julgamento?
Concordo.
Em primeiro lugar porque o PT tem dito que vai até o fim com a candidatura do
Lula. Caso essa afirmação do PT não se concretize, penso que Lula será um cabo
eleitoral muito forte. Se ele for condenado, a ideia do sentimento de injustiça
vai se aprofundar em boa parte da população, até porque tem gente de direita,
como Reinaldo Azevedo, que tem dito que não há provas contra Lula. Então, a
ideia da reparação da injustiça vai ficar mais forte na população e, nesse
sentido, o poder de influência dele de transferência de voto vai ser maior do
que em outras eleições.
Esse sentimento de injustiça estaria
também ligado a um desgaste da Operação Lava Jato?
Eu
acho que tem desgaste com duas coisas. De fato a sentença do juiz Sergio Moro
foi muito debatida na opinião pública. Em segundo lugar há um desgaste do Moro,
e as pesquisas do Ipsos publicadas pelo Estadão mostram isso. Enquanto o Lula
vem numa curva ascendente de popularidade e diminuição de rejeição, o Moro vem
numa curva descendente de popularidade e aumento da rejeição a ele. Além disso,
existe um efeito comparativo. Em relação ao Lula, existe a dúvida da propriedade
do triplex, não há contas no exterior, não há caixas fortes de joias, não tem
bunkers cheios de dinheiro nem malas de dinheiro andando por aí. O cidadão vai
se perguntar: por que, então, ele está sendo condenado e outros não sendo
condenados? O cidadão comum não lida com prazos da Justiça, não sabe detalhes.
Ele só vê que um cara sem uma prova evidente está sendo condenado e outros com
provas evidentes estão ocupando o poder. E outro elemento importante é o efeito
saciedade. O Lula foi acusado de tantas coisas que as pessoas nem sabem mais do
que ele está acusado. Qualquer denúncia não pega mais, porque ele já teve o
desgaste que ele deveria ter tido. Agora está numa curva de reversão.
Se Lula ficar fora da disputa, tende a
apoiar um nome do PT ou alguém de fora como Ciro Gomes?
Ele
tenderá a apoiar um candidato do PT caso não consiga ir até o fim. O Ciro Gomes
adotou uma estratégia equivocada em torno dessa questão do Lula. Foi muito
ambíguo, muito crítico e no fim deu uma declaração dizendo que torce pela
absolvição do Lula. Ele não soube se postar. O PSOL foi mais inteligente, se
inserindo no movimento de defesa de Lula, percebendo que ali se move um campo
político e eleitoral, para angariar a simpatia de eventuais eleitores. Com a
estratégia errada de Ciro, o PT me parece não estar inclinado a apoiá-lo. O
melhor substituto seria o Fernando Haddad.
Ciro Gomes é um candidato competitivo?
O
Ciro Gomes é um candidato que tem que ser levado em conta, até porque as
pesquisas mostram que, sem o Lula na disputa, ele leva uma parcela do
eleitorado do petista. Agora, o problema é que ele é muito errático, ninguém
sabe o que ele vai fazer na campanha. Ele é incontrolável, termina falando o
que bem entende, é um candidato que não tem o domínio de si mesmo, se deixa
dominar pelas emoções, e isso é prejudicial numa campanha eleitoral,
principalmente para o cargo máximo do País.
E o Fernando Haddad teria
condições de chegar ao segundo turno, mesmo com o insucesso de sua campanha
para ser reeleito prefeito de São Paulo?
Sim.
E penso que uma forte presença do Lula na campanha vai ajudar. Em 2016, era uma
outra circunstância, porque era o momento de máximo desgaste do PT. E esse
desgaste está numa curva de reversão. Tanto é que as pesquisas mostram que a
popularidade do PT vem crescendo, não atinge mais os patamares de 30% que já
atingiu, mas já voltou a 18%. Em 2016 era um momento de defensiva completa, quando
as forças de esquerda foram derrotadas. O momento de hoje é outro, quando as
esquerdas estão passando para uma ofensiva política, e isso tem peso na
eleição. As teses progressistas de esquerda passaram a ter maior receptividade
na sociedade, e é forte na opinião pública a ideia de que no rastro do governo
Temer veio uma destruição de muita coisa que tinha sido conquistada. A rejeição
ao governo Temer acaba favorecendo a esquerda, além do colapso do PSDB. O PSDB
apostou errado no impeachment.
Estadão