© REUTERS/Ueslei Marcelino Impopular e isolado, governo Temer sinaliza fim prematuro |
Com uma impopularidade histórica e um
esvaziamento do apoio congressual, o mandato de Michel Temer apresenta os
primeiros sinais de um desfecho prematuro.
A quase seis meses da
passagem da faixa presidencial, o Palácio do Planalto desistiu de propostas
antes prioritárias, não consegue evitar que medidas provisórias caduquem,
passou a ser menos frequentado por aliados e corre o risco de perder
funcionários comissionados.
A possibilidade do governo acabar antes
do fim era o principal receio de auxiliares presidenciais que defendiam que o
presidente mantivesse o discurso de candidato à reeleição até julho,
postergando o processo de abandono de seu mandato por políticos e empresários.
Em conversas reservadas,
relatadas à reportagem, o presidente foi convencido de que dificilmente
conseguirá emplacar até o final do ano propostas que já não estejam no
Congresso e reconhece a dificuldade de fazer o seu sucessor na eleição deste
ano.
O principal receio dele,
segundo parlamentares governistas, é de que o próximo presidente revogue as
duas medidas que ele considera os principais legados de seu mandato: o teto de
gastos e a reforma trabalhista.
Em um governo sem capital
político, o projeto de simplificação tributária, por exemplo, deve ficar apenas
para a próxima gestão. Prometida há mais de um ano, a iniciativa segue em fase
de formulação e não tem expectativa de envio ao Poder Legislativo.
O caminho deve ser o mesmo da
reforma previdenciária, que, após não ter respaldo mínimo para ser aprovada,
foi deixada de lado diante da intervenção federal no Rio de Janeiro. A sua
retomada após a eleição presidencial é considerada pouco provável inclusive por
partidos governistas.
Em discurso, o presidente
reconheceu que a regulamentação do código de mineração, assinada na terça (12),
foi uma espécie de "fecho" das reformas de seu mandato."Eu quero
dizer que é um quase um fecho, digamos assim, das grandes reformas que
fizemos", disse.
A mudança nas regras do setor
de saneamento básico também não saiu da fase de análise. Na segunda quinzena de
julho, o Congresso Nacional entrará em recesso parlamentar e, com o processo
eleitoral, não deve ter quórum para votações até o final de outubro.
Com uma impopularidade de
82%, segundo o Datafolha, o presidente tem enfrentado dificuldades até mesmo em
não deixar que medidas provisórias percam a validade. Nos últimos meses, não
foram votados, por exemplo, ajuste na reforma trabalhista, privatização das
distribuidoras elétricas e aumento na tributação de fundos exclusivos.
A romaria de deputados
governistas ao gabinete presidencial, rotineira durante os dois primeiros anos
de mandato, não é mais frequente. Em junho, o máximo que o presidente recebeu,
durante um mesmo dia em audiências privadas, foi oito integrantes da base
aliada. No final do ano passado, ele chegava a receber até 15 governistas em um
mesmo dia.
Com a perspectiva de troca de
governo, funcionários em cargos de confiança começaram a buscar emprego na
iniciativa privada. Segundo a reportagem apurou, além de auxiliares palacianos,
jornalistas e publicitários que trabalham em pastas ministeriais têm entrado em
contato com assessorias de imprensa atrás de vaga de trabalho.
Na quarta-feira (13) ainda, o
presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch, e o
presidente licenciado do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas), Guilherme Afif Domingos, deixaram o Conselho de Desenvolvimento Econômico
e Social, o chamado "Conselhão".
Com o retrato de
enfraquecimento, um assessor presidencial resume que, a partir de agora, só
restou ao presidente levar a máquina pública "no piloto automático"
para entregá-la em janeiro ao seu sucessor. Com informações da Folhapress.