segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Vitória de Bolsonaro pode tirar investimentos e isolar o Brasil, avaliam diplomatas

© AFP Jair Bolsonaro tira selfie com policial de São Paulo.

Quando o deputado federal Jair Bolsonaro começou a discursar de maneira descontraída em uma reunião da qual participaram quase 20 diplomatas estrangeiros de alto escalão em Brasília, a plateia se surpreendeu com o capitão reformado do Exército e candidato do PSL à Presidência da República. Acharam que aquele político acostumado a fazer discursos radicais, defender torturador da ditadura militar e retrucar mulheres que o atacam verbalmente tinha mudado. “Ficamos perplexos. Parecia uma pessoa moderada. Muito diferente do que estamos acostumados a ver nos noticiários e na tribuna do Congresso”, disse um dos presentes ao encontro. Minutos depois, quando passou a falar sobre o seu projeto de país, seus planos a para economia e relações exteriores, contudo, a surpresa positiva se tornou descontentamento. “Ele é muito raso. Sempre recorre a assessores. Nunca sabe dar uma resposta aprofundada. Não me parece que ele saiba o que fará se chegar à presidência”, afirmou outro espectador. Uma das conclusões de parte desses diplomatas foi que, sem saber o rumo a se dar às relações internacionais, em um primeiro momento, o Brasil pode se isolar.

Em seu plano de Governo, Bolsonaro já deixou claro que vai se afastar de países que considere serem governados por ditadores de esquerda e que investirá mais em acordos bilaterais do que em outros que envolvam blocos econômicos como o Mercosul ou a União Europeia. É mais ou menos o que a gestão do americano Donald Trump, em quem ele se inspira, tem feito. Se a inspiração é no radical presidente dos Estados Unidos, dizem diplomatas, é de se esperar que medidas protecionistas ao mercado brasileiro aumentem. Porém, como o Brasil não é um player global como os EUA, pode sofrer perdas consideráveis de investimentos. “Essa incerteza é o que nos preocupa mais”, avaliou um diplomata.

Nas últimas duas semanas o EL PAÍS entrevistou oito representantes de embaixadas estrangeiras lotados em Brasília. Todos falaram sob a condição de não terem seus nomes e funções publicados. A justificativa é que que os países que eles representam não querem interferir nas eleições brasileiras. Foram ouvidos diplomatas que atuam em embaixadas da Europa, América, Ásia e África. Entre eles, grandes parceiros comerciais do Brasil. Todos se reuniram com ao menos 5 dos 13 candidatos à presidência neste ano. Em Brasília é comum esse tipo de reunião entre representantes de governos estrangeiros e políticos brasileiros.

Eis algumas das avaliações dos entrevistados para o pleito de 2018: 1) Sete dos oito diplomatas apostam que o segundo turno será entre o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro – apenas um deles acha que o capitão estará fora do segundo turno e que o duelo se dará entre o PSDB e o PT; 2) Ninguém arrisca dizer quem será o eleito; 3) Em caso de vitória de Bolsonaro, entendem que Brasil pode perder investimentos e ter relações internacionais afetadas porque o candidato é inseguro e seus posicionamentos não são tão claros; 4) No caso de vitória de Alckmin, afirmam que pouco da atual política de relações internacionais de Michel Temer (MDB) mudará e; 5) Seja quem for o eleito, sete dos oito entrevistados acreditam que dificilmente as medidas protecionistas do mercado brasileiro serão reduzidas. Apenas um dos entrevistados acredita que é possível abrir mais o mercado. Todos concordam que, com Bolsonaro, o protecionismo poderia se acentuar. “O Brasil é muito protecionista. E isso não é só por causa dos governantes. As classes poderosas são protecionistas em todas as áreas, da agricultura à área têxtil”, ponderou um dos entrevistados. Informações do El País.

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