© AFP Jair Bolsonaro tira selfie com policial de São Paulo. |
Quando o deputado federal Jair Bolsonaro começou a
discursar de maneira descontraída em uma reunião da qual participaram quase 20
diplomatas estrangeiros de alto escalão em Brasília, a plateia se surpreendeu
com o capitão reformado do Exército e candidato do PSL à Presidência da
República. Acharam que aquele político acostumado a fazer discursos radicais,
defender torturador da ditadura militar e retrucar mulheres que o atacam
verbalmente tinha mudado. “Ficamos perplexos. Parecia uma pessoa moderada. Muito
diferente do que estamos acostumados a ver nos noticiários e na tribuna do
Congresso”, disse um dos presentes ao encontro. Minutos depois, quando passou a
falar sobre o seu projeto de país, seus planos a para economia e relações
exteriores, contudo, a surpresa positiva se tornou descontentamento. “Ele é
muito raso. Sempre recorre a assessores. Nunca sabe dar uma resposta
aprofundada. Não me parece que ele saiba o que fará se chegar à presidência”,
afirmou outro espectador. Uma das conclusões de parte desses diplomatas foi
que, sem saber o rumo a se dar às relações internacionais, em um primeiro
momento, o Brasil pode se isolar.
Em seu plano de Governo, Bolsonaro já
deixou claro que vai se afastar de países que considere serem governados por
ditadores de esquerda e que investirá mais em acordos bilaterais do que em
outros que envolvam blocos econômicos como o Mercosul ou a União Europeia. É
mais ou menos o que a gestão do americano Donald Trump, em quem ele se inspira,
tem feito. Se a inspiração é no radical presidente dos Estados Unidos, dizem
diplomatas, é de se esperar que medidas protecionistas ao mercado brasileiro
aumentem. Porém, como o Brasil não é um player global como os
EUA, pode sofrer perdas consideráveis de investimentos. “Essa incerteza é o que
nos preocupa mais”, avaliou um diplomata.
Nas últimas duas semanas o EL PAÍS entrevistou oito
representantes de embaixadas estrangeiras lotados em Brasília. Todos falaram
sob a condição de não terem seus nomes e funções publicados. A justificativa é
que que os países que eles representam não querem interferir nas eleições
brasileiras. Foram ouvidos diplomatas que atuam em embaixadas da Europa,
América, Ásia e África. Entre eles, grandes parceiros comerciais do Brasil.
Todos se reuniram com ao menos 5 dos 13 candidatos à
presidência neste ano. Em Brasília é comum esse tipo de reunião
entre representantes de governos estrangeiros e políticos brasileiros.
Eis algumas das avaliações dos entrevistados para
o pleito de 2018: 1)
Sete dos oito diplomatas apostam que o segundo turno será entre o ex-governador
paulista Geraldo Alckmin (PSDB)
e Jair Bolsonaro – apenas um deles acha que o capitão estará fora do segundo
turno e que o duelo se dará entre o PSDB e o PT; 2) Ninguém arrisca dizer quem
será o eleito; 3) Em caso de vitória de Bolsonaro, entendem que Brasil pode
perder investimentos e ter relações internacionais afetadas porque o candidato
é inseguro e seus posicionamentos não são tão claros; 4) No caso de vitória de
Alckmin, afirmam que pouco da atual política de relações internacionais
de Michel Temer (MDB) mudará e; 5) Seja
quem for o eleito, sete dos oito entrevistados acreditam que dificilmente as
medidas protecionistas do mercado brasileiro serão reduzidas. Apenas um dos
entrevistados acredita que é possível abrir mais o mercado. Todos concordam
que, com Bolsonaro, o protecionismo poderia se acentuar. “O Brasil é muito
protecionista. E isso não é só por causa dos governantes. As classes poderosas
são protecionistas em todas as áreas, da agricultura à área têxtil”, ponderou
um dos entrevistados. Informações do El País.