© Tiago Queiroz/Estadão Óleo atingiu ao menos 494 localidades do Nordeste e do Espírito Santo |
BRASÍLIA - Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) apontam que a origem do derramamento
de petróleo no
litoral brasileiro pode estar a milhares de quilômetros da
costa brasileira. Mais precisamente, as avaliações indicam que o óleo teria se
deslocado da região sul do mar da África,
em abril, até chegar à costa brasileira, em setembro.
Essa hipótese refuta completamente a linha mais recente de
investigações divulgadas pela Marinha e
pela Polícia Federal,
que apontaram, como principal suspeito da
tragédia, o navio Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers.
No início de novembro, o Ministério da Defesa, a Marinha e a PF
declararam que, por meio de geointeligência, tinham identificado uma imagem de
satélite do dia 29 de julho relacionada a uma mancha de óleo a 733,2 km da
costa brasileira, na região leste do Estado da Paraíba. De um dia para o outro,
essa mancha teria aparecido, na região por onde o navio passava.
A Delta Tankers negou qualquer tipo de incidente com
a embarcação e se prontificou a auxiliar nas
investigações. Nesta semana, a Marinha evitou falar sobre o assunto em
audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Óleo,
instalada na Câmara dos Deputados.
A nova hipótese de que o local de origem seria o mar na região sul
da África é detalhada por Ronald Buss de Souza, pesquisador do Inpe que atua no
Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) da crise do óleo. Oceanógrafo, Souza
é chefe de gabinete e diretor substituto do Inpe.
Segundo o especialista, modelos estatísticos que levam em
consideração situações tecnicamente reconhecidas sobre as correntes marítimas,
vento e ondas indicam que o óleo, que efetivamente chegou ao litoral de forma
submersa, teria como origem a região sul da África. O pesquisador, no entanto,
não detalhou se seria um acidente com embarcações ou um vazamento, por exemplo.
O Inpe considera ainda que, apesar de não terem surgido novas
manchas no litoral brasileiro, há chances de que parte do óleo ainda possa
estar estocado no fundo do mar, preso a sedimentos.
"A gente tem uma hipótese principal de que esse derrame
aconteceu a partir de abril deste ano, e as manchas só chegaram ao País, em
subsuperfície, de maneira difícil de ser detectada através de imagem de
satélite, em setembro", comentou Souza, que participou da reunião da CPI
do óleo, na quarta-feira, 11.
A Marinha tem reafirmado que o óleo seria uma mistura de petróleo
com origem em poços da Venezuela. Passados mais de 100 dias desde a primeira
ocorrência do derramamento no litoral da Paraíba, em 30 de agosto, uma faixa
3.600 quilômetros do litoral já foi atingida pelo óleo.
Boletim desta quinta-feira, 12, do Ibama, registrava 997 localidades atingidas no
Nordeste, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
O levantamento das ações feitas pela Marinha, pelo Ibama e por
demais órgãos que atuam na retirada do petróleo cru aponta que 5 mil toneladas
de óleo foram coletadas.
Estadão