sábado, 14 de dezembro de 2019

Mar da África pode ser origem de óleo no litoral brasileiro, aponta Inpe

© Tiago Queiroz/Estadão Óleo atingiu ao menos 494 localidades do Nordeste e do Espírito Santo

BRASÍLIA - Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a origem do derramamento de petróleo no litoral brasileiro pode estar a milhares de quilômetros da costa brasileira. Mais precisamente, as avaliações indicam que o óleo teria se deslocado da região sul do mar da África, em abril, até chegar à costa brasileira, em setembro.

Essa hipótese refuta completamente a linha mais recente de investigações divulgadas pela Marinha e pela Polícia Federal, que apontaram, como principal suspeito da tragédia, o navio Bouboulina, da empresa grega Delta Tankers.

No início de novembro, o Ministério da Defesa, a Marinha e a PF declararam que, por meio de geointeligência, tinham identificado uma imagem de satélite do dia 29 de julho relacionada a uma mancha de óleo a 733,2 km da costa brasileira, na região leste do Estado da Paraíba. De um dia para o outro, essa mancha teria aparecido, na região por onde o navio passava.

A Delta Tankers negou qualquer tipo de incidente com a embarcação e se prontificou a auxiliar nas investigações. Nesta semana, a Marinha evitou falar sobre o assunto em audiência na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Óleo, instalada na Câmara dos Deputados.

A nova hipótese de que o local de origem seria o mar na região sul da África é detalhada por Ronald Buss de Souza, pesquisador do Inpe que atua no Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) da crise do óleo. Oceanógrafo, Souza é chefe de gabinete e diretor substituto do Inpe.

Segundo o especialista, modelos estatísticos que levam em consideração situações tecnicamente reconhecidas sobre as correntes marítimas, vento e ondas indicam que o óleo, que efetivamente chegou ao litoral de forma submersa, teria como origem a região sul da África. O pesquisador, no entanto, não detalhou se seria um acidente com embarcações ou um vazamento, por exemplo.

O Inpe considera ainda que, apesar de não terem surgido novas manchas no litoral brasileiro, há chances de que parte do óleo ainda possa estar estocado no fundo do mar, preso a sedimentos.

"A gente tem uma hipótese principal de que esse derrame aconteceu a partir de abril deste ano, e as manchas só chegaram ao País, em subsuperfície, de maneira difícil de ser detectada através de imagem de satélite, em setembro", comentou Souza, que participou da reunião da CPI do óleo, na quarta-feira, 11.

A Marinha tem reafirmado que o óleo seria uma mistura de petróleo com origem em poços da Venezuela. Passados mais de 100 dias desde a primeira ocorrência do derramamento no litoral da Paraíba, em 30 de agosto, uma faixa 3.600 quilômetros do litoral já foi atingida pelo óleo.

Boletim desta quinta-feira, 12, do Ibama, registrava 997 localidades atingidas no Nordeste, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

O levantamento das ações feitas pela Marinha, pelo Ibama e por demais órgãos que atuam na retirada do petróleo cru aponta que 5 mil toneladas de óleo foram coletadas.

Estadão

O silêncio de Bolsonaro não é inocente

                 A reclusão do presidente contrasta com seu ativismo digital, mina sua credibilidade como futuro líder da oposição e deve en...