air Bolsonaro ao lado de Edir Macedo - Foto: Palácio do Planalto/Divulgação |
Uma
pesquisa do Datafolha divulgada no início da semana mostra que os evangélicos já somam 31% da população do país. José Eustáquio Alves, doutor e pesquisador em demografia,
projeta, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, que é possível que em 2032, daqui apenas doze anos, os
evangélicos já superem em números os católicos no Brasil.
Um dos símbolos dessa vertente religiosa no Brasil é a Igreja
Universal do Reino de Deus, fundada pelo bispo Edir Macedo em julho de 1997, no
Rio de Janeiro. A Universal, como é popularmente conhecida, possui, de acordo
com o censo de 2010 realizado pelo IBGE, mais de seis mil templos, doze mil
pastores e um milhão e oitocentos mil fiéis ao redor do país.
Atualmente, Edir
Macedo não é apenas líder da Universal no país. Ele também é empresário,
escritor e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior
emissora de televisão do Brasil. O jornalista Gilberto Nascimento, autor do
livro O Reino (Companhia
das Letras, 384 páginas), que abrange a história de Macedo em paralelo com o
crescimento da Universal, conta que o bispo já era ambicioso desde o início da
sua trajetória.
"O que eu
procuro mostrar ao longo dos capítulos é que Edir Macedo sempre foi uma pessoa
muito determinada e ambiciosa. Ele sempre teve um projeto de crescimento e, aos
poucos, ele foi conquistando esse objetivo. Primeiro procurando instalar
templos no maior número de locais possíveis. Depois, visualizou desde cedo a
importância da estratégia da utilização dos meios de comunicação. Tudo isso
também acabou aliado a uma questão de poder político", analisa Nascimento.
Crescimento
e habilidade política
Edir Macedo já
esteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido-RJ) em eventos
públicos diversas oportunidades. Para Nascimento, essa é uma das consequências
do que os bispos da Universal pregam em seus templos.
"Há uma
conclusão clara ao longo da história da Universal. Eles chegaram a escrever um
livro chamado Plano de
Poder (Thomas Nelson, 128 páginas) no qual eles conclamam os
seguidores a participar da vida política. Eles não fazem uma declaração
explícita de que querem eleger um presidente da República, mas acho que, se
puderem, eles não descartariam", lembra o jornalista que destaca o
crescimento da participação dos evangélicos na vida política depois da
promulgação da Constituição Federal de 1988, possuindo atualmente uma poderosa bancada no Congresso.
Apesar de, no
momento, Macedo e a Universal serem um poderoso aliado do governo Bolsonaro,
Nascimento destaca que isso ocorre não exatamente apenas por afinidade
ideológica com o atual presidente.
"Eles
[líderes da Universal] sempre foram aliados aos governantes de plantão. Em 89
apoiaram o Fernando Collor e depois o Itamar Franco. O Collor até ajudou na
compra da Record e na obtenção da concessão da emissora. Depois apoiaram o
governo FHC durante todos os oito anos. Antes, eles chamavam o Lula de
'demônio', 'satanás' e 'comunista', mas quando o Lula venceu as eleições, eles
aderiram ao governo. O apoio persistiu no governo Dilma, inclusive com
representantes da igreja ocupando o cargo de ministro. Após o impeachment, eles
apoiam Michel Temer, indicando novamente um ministro e por fim, agora, estão
juntos com o governo Jair Bolsonaro", relembra Nascimento, que há 40 anos
cobre temas religiosos.
O jornalista não
acredita que um eventual insucesso do governo Bolsonaro possa abalar os pilares
da Igreja Universal. Nascimento aposta, novamente, em uma adaptação de Edir
Macedo e seu império.
"Se amanhã
o governo Bolsonaro cair, a tendência é que mudem de posição do dia para noite.
A minha impressão é que, pelo comportamento histórico deles, é o que
aconteceria. Eles estarão com quem for assumir o governo. Pode ser de direita,
esquerda e centro. Essa preocupação com coerência não existe".
Escândalos
de corrupção
Tanto a Igreja
Universal como o Bispo Edir Macedo possuem acusações de crimes como lavagem de
dinheiro, delitos de charlatanismo, formação de quadrilha, entre outros. Ainda
assim, Macedo e os líderes nunca foram condenados.
"No livro,
as denúncias foram apontadas. A maior parte acabou sendo arquivado ou
prescrito. Eles não foram inocentados e nem condenados, as acusações foram
prescritas. As denúncias e acusações existiram. Você tendo excelentes advogados
e muitos recursos, fica mais fácil de protelar acusações com recursos
sucessivos, algo que a lei permite”, lembra o jornalista.
Nascimento
acredita que a boa relação com os altos mandatários do país também ajudou
Macedo e sua igreja a se verem livres de maiores problemas com a justiça.
"Eles foram
alvos de processo e investigações em diversos órgãos, como Justiça Civil e
Receita Federal. Responderam processos durante diferentes governos. Claro que
se você tem uma boa relação com o governo, você procura amenizar os problemas”,
pondera Nascimento.
Por Lucas Tomazeli
Yahoo Notícias