© Governo do Estado de São Paulo Doria durante bate-boca com Bolsonaro em videoconferência: governadores estão descolados das ações promovidas pelo Planalto |
O Brasil enfrenta a pandemia do novo
coronavírus em meio a uma disputa que tem sido levada para o campo político. O
presidente Jair Bolsonaro, que por diversas
vezes chamou o vírus de “gripezinha” e “resfriadinho”, entrou em verdadeiro
embate com os governadores que decretaram calamidade pública e tomaram medidas
drásticas, como fechamentos de comércios. Em meio a isso, os estados aguardam
os auxílios já anunciados pelo governo federal.
Bolsonaro entrou em conflito frontal com
os governadores que impuseram medidas restritivas para conter o avanço do
coronavírus. O presidente afirmou que alguns fazem “demagogia barata” e, na
última sexta-feira, levantou suspeita sobre os números de pessoas infectadas e mortas
nos estados em decorrência do vírus, falando que haveria um “uso político” de
números. O presidente ressaltou não acreditar nos números de São Paulo, que
oficialmente já tem1.406 pessoas infectadas e 84 mortas, sendo o estado com
mais casos. É com o governador de SP, João Doria (PSDB), que tem acontecido as
maiores brigas do presidente. Na última quarta-feira, houve um bate-boca entre
os dois, quando Doria lamentou o pronunciamento do presidente feito no dia
anterior. Bolsonaro, por sua vez, disse que em 2022, ano de eleições para a
Presidência, Doria poderá “destilar todo o ódio e demagogia”.
Apesar das críticas, Doria e outros
governadores têm mantido as medidas de distanciamento social, com fechamento de
comércios, e continuam pedindo para que a população fique em casa. Em São
Paulo, as definições anunciadas pelo governo foram mantidas. Na última
sexta-feira, Doria anunciou o repasse de R$ 50 milhões para a capital para
financiar hospitais de campanha. Um dos hospitais está sendo instalado no
estádio do Pacaembu.
No Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel (PSC)
afirmou que aguardava ações concretas por parte do governo federal, em auxílio
à economia do estado durante os períodos de restrições, até a próxima
segunda-feira (30). Witzel reiterou que a o isolamento se trata de uma
recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio ministro da
Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e disse estar surpreso com a mudança de postura
por parte do ministro, que se alinhou ao discurso do presidente em relação ao
fim do isolamento social.
A discrepância do discurso de Bolsonaro com as orientações de
autoridades, como a própria, provocou rompimento com o governador de Goiás,
Ronaldo Caiado, até então grande aliado do presidente. Caiado, que é médico,
concedeu uma entrevista coletiva um dia após o pronunciamento de Bolsonaro
dizendo que as medidas restritivas determinadas pelo estado continuavam
valendo. O estado teve uma morte confirmada nesta semana e 49 casos de
infectados. Foi aberto nesta semana um hospital de campanha na capital,
Goiânia.
Dinheiro federal Em
nova carta divulgada na última sexta-feira, os nove governadores do Nordeste
afirmaram que continuarão guiando suas ações em relação ao coronavírus com base
na ciência e na experiência mundial. Os gestores disseram que existem uma
“ausência de efetiva coordenação nacional” e manifestaram “profunda indignação
com a postura do governo federal, que contraria a orientação de entidades de
reconhecida respeitabilidade, como a OMS”.
A região possui 642 casos confirmados e sete mortes, sendo cinco em
Pernambuco, quatro no Ceará e uma no Piauí. A carta foi redigida após
videoconferência entre os gestores. Na última quarta-feira (25), após
pronunciamento do presidente em cadeia nacional, eles já haviam divulgado uma
carta lamentando o comportamento de Bolsonaro. O governador de Pernambuco,
Paulo Câmara (PSB), divulgou um vídeo no qual fala que tem feito o possível
para cuidar da saúde e da vida das pessoas.
“Mas só o governo federal pode emitir dinheiro e realizar programas
de renda para os trabalhadores. é assim no mundo, não faz sentido aqui o
governo federal procurar briga com os governadores e querer colocar as pessoas
em risco sem assumir ações efetivas, dedicadas ao social e à economia”, disse.
Outros gestores, entretanto, aproveitaram os discursos de Bolsonaro
para afrouxar as medidas de quarentena. Em Santa Catarina, por exemplo, o
governador Carlos Moisés (PSL) anunciou que a partir da próxima semana serão
retomadas as atividades que estavam paradas. Ficaram suspensas até o dia 7
somente o transporte coletivo de passageiros e o ingresso de transporte
interestadual e internacional de passageiros. O governador do Distrito Federal,
Ibaneis Rocha (MDB), decidiu permitir o funcionamento de lotéricas, lojas de
conveniência e minimercados em postos de combustíveis.
Correio Braziliense