© Wilton Junior/Estadão Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta |
BRASÍLIA - Em discurso contundente pela manutenção das
medidas de isolamento para conter o avanço da covid-19, o ministro da
Saúde Luiz Henrique
Mandetta posicionou-se contrário às carreatas que ocorreram em
diversos Estados do País neste sábado pela flexibilização da quarentena e a
retomada de atividades econômicas. O ministro afirmou que o novo coronavírus
entrou no Brasil através da elite econômica e que é preciso preservar o sistema
de saúde brasileiro neste momento para garantir atendimento a todos que
precisem.
"Fazer
movimento assimétrico de efeito manada... Daqui a duas semanas, três semanas,
os que falam 'vamos fazer carreata', vão ser os mesmos que ficarão em casa. Não
é hora", declarou Mandetta durante coletiva neste sábado, dia 28, para
atualizar dados sobre a epidemia no País.
“Ainda não dá
para falar 'libera todo mundo para sair' porque a gente não está conseguindo
chegar com o equipamento como a gente precisa”, afirmou Mandetta. “Se sair
andando todo mundo de uma vez, vai faltar (atendimento) para rico e pobre”,
disse o ministro.
Na sexta-feira,
o presidente Jair Bolsonaro chegou a classificar o movimento de pessoas que
saíram às ruas de carro para protestar contra a quarentena como
"fantástico" e disse que governadores e prefeitos deveriam prestar
atenção. "Essa doença entrou pela elite do Brasil, elite econômica. Aqui
em Brasília, os casos são quase todos no Plano Piloto e no Lago Sul, não chegou
na periferia do sistema. Como no Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca, o Leblon,
ainda não chegou, está começando a entrar nas comunidades", disse Mandetta
neste sábado.
O ministro
comentou ainda que, no momento, os minutos valem horas para combater a
propagação do vírus, que já contaminou mais de 3,9 mil brasileiros e matou 114,
segundo a atualização feita na tarde deste sábado - o número de mortes foi
corrigido depois de informação dada de 111 óbitos. Mandetta afirmou que é
preciso poupar o sistema de saúde porque os profissionais ainda não possuem
materiais adequados em quantidade suficiente. Se médicos e enfermeiros se
contaminarem, o ministro afirma que não haverá pessoas para usar os
equipamentos e atender as pessoas doentes.
"Agora
vai ter de poupar o sistema de saúde. Não é hora de sobrecarregar o sistema,
seja em nome do que for. É hora de aguardar, vamos ver como essa semana vai se
comportar e nós vamos ter nesta semana a discussão dentro da saúde para achar
os parâmetros. Ainda não dá para falar 'libera todo mundo para sair' porque a
gente não está conseguindo chegar com o equipamento como a gente precisa. Se
sair andando todo mundo de uma vez, vai faltar (atendimento) para rico e
pobre”, disse o ministro.
CLOROQUINA
Ainda na
contramão do discurso de Bolsonaro, Mandetta informou que o uso da cloroquina,
ainda em estudo como medicamento de combate ao novo coronavírus, não tem
comprovação científica. "Cloroquina não é panaceia. Não é o remédio que
veio para salvar a humanidade", pontuou. De acordo com Mandetta, há vários
medicamentos em estudo e a cloroquina só tem sido usada para casos graves da
covid-19. Do contrário, pode causar arritmia cardíaca e sobrecarregar o fígado.
"Se
sairmos com a caixa desse medicamento falando 'pode tomar', nós podemos ter
mais mortes por mau uso de medicamento do que pela própria virose. Então, não
façam isso. Esse medicamento tem a sua indicação para lúpus, artrite rematóide
e malária, claramente colocado ali", enfatizou o ministro.
Na última
semana, durante reunião com os países que compõem o G20, o presidente Jair
Bolsonaro levou uma caixa de hidroxicloroquina e disparou sobre os benefícios
do fármaco. Depois, em conversa com jornalistas, Bolsonaro disse que
"ouviu falar" que o remédio tem sua eficácia "100%
comprovada".
Estadão