Poucas horas depois de editar uma
medida provisória determinando a suspensão dos contratos de trabalho por quatro
meses, sem nenhum tipo de compensação ao trabalhador, o presidente Jair
Bolsonaro decidiu voltar atrás.
Contribuiu para isso o puxão de orelhas dados pelo
presidente da Câmara, Rodrigo Maia, além de centenas de críticas recebidas,
apesar do elogio do governador de São Paulo, João Doria, dado inadvertidamente
durante sua coletiva desta segunda-feira (23). Não é segredo para ninguém que a
crise está posta.
Com a economia paralisada, o desemprego no Brasil,
que já estava alto, promete disparar. Já há quem fale em 40 milhões de
desempregados, um número absolutamente devastador, mas não exótico para um país
com as fragilidades socioeconômicas sabidas.
Com as medidas até agora adotadas pelo governo, de
imediato, haverá uma substancial perda de renda dos trabalhadores, exceto
aqueles servidores públicos da elite, que tiveram tempo suficiente, com seus
altos salários e penduricalhos, para amealhar uma boa poupança.
Estes, mesmo sem poder sair de casa, estão de
férias. O que está em questão aqui são milhões de brasileiros que não terão
dinheiro mais para pagar contas básicas.
Quando um trabalhador perde o emprego, ele recebe
um salário desemprego por alguns meses até se reorganizar numa situação normal
da economia. Isso já rende a ele terríveis preocupações, já que as vagas de
trabalho estavam em falta antes da pandemia.
Agora que as coisas pioraram de forma rápida e
absoluta, a simples decisão do governo de divulgar uma MP autorizando empresas
a suspenderem o pagamento de seus empregados, acenando com uma compensação
mínima dos salários, ascendeu o pânico e colocou em dúvida a competência das
autoridades econômicas.
O correto – e parece que isso vai acontecer – são
políticas setoriais que injetem ânimo na economia como um todo e não apenas na
tranquilidade das empresas ou crédito para elas passarem a tempestade. Os
trabalhadores fazem parte dessa equação.
A ideia de que o consumo tem relevância inferior à
produção é um argumento ingênuo, mas recorrente no Brasil. Aqui, as coisas
sempre funcionaram para atender lobbies com poder de falar alto em Brasília, e
não é de hoje.
Nos EUA, as pessoas recebem para ficar em casa e o
problema de lá é mais a falta de leitos da UTI, que é um problema de vários
países.
Aqui, no Brasil, além de ficar em casa e não poder
produzir, os trabalhadores têm que encarar como normal a inadimplência e a fome.
Agora RN