© Ag. Brasil Policiais federais durante uma das fases da Lava Jato, no Rio. |
Tentando aproveitar a onda de combate
à corrupção e a operação Lava Jato, um grupo de policiais
federais e juízes tenta obter nas urnas o apoio para se elegerem deputados e
governadores. Ao menos 35 tentam viabilizar suas candidaturas para se colocarem
como opção aos eleitores. Três deles são ex-juízes, que desistiram da toga para tentarem se eleger governadores de
seus Estados. São eles: Odilon de Oliveira (PDT-MS), Márlon Reis (REDE-TO) e
Wilson Witzel (PSC-RJ). Mais dois ex-magistrados tentarão concorrer ao
Congresso, Julier Sebatião (PDT-MT) e Selma Arruda (PSL-MT). E outros 30, são
policiais federais que disputarão vagas em Assembleias Legislativas e Câmara
dos Deputados.
Esses agentes de segurança
pública se uniram em uma frente que dá suporte às candidaturas. Participam, por
exemplo, de um debate em que se comprometeram a defender as mesmas pautas no
Legislativo com relação à segurança pública, assim como na defesa dos interesses
da categoria policial. Um dos desafios será, por exemplo, lutar para impedir
que sejam instaladas Comissões Parlamentares de Inquérito para investigar os
investigadores. Nesta semana ganhou força em Brasília a CPI da Lava Jato, que já conta com 190
assinaturas. O objetivo é investigar supostos abusos da operação que minou a
classe política brasileira. “Formamos essa frente Lava Jato para tentar
aproveitar esse momento de combate à corrupção. Por mais que o nome provoque
amores e desamores em parte da população, entendemos que há mais pontos
positivos do que negativos”, afirmou o presidente da Federação Nacional dos
Policiais Federais, Luis Boudens.
Na atual legislatura, dos
513 deputados federais, dois são PFs: Aluisio Mendes (PODE-MA) e Eduardo
Bolsonaro (PSL-MA). O primeiro é agente aposentado da PF e foi eleito depois de
ser secretário de Segurança do Maranhão. O segundo, que estava na polícia há
apenas cinco anos, garantiu sua vaga no Congresso principalmente por causa do
sobrenome de seu pai, o deputado federal e pré-candidato à presidência Jair
Bolsonaro (PSL-RJ). Ambos disputarão a reeleição. A meta para 2018 é eleger
entre cinco e sete policiais federais.
Uma característica entre os
candidatos policiais é o de se afastar de partidos pré-definidos como de
esquerda. “Depois do mensalão e da Lava Jato o PT e os partidos ligados a ele
ficaram marcados pela corrupção. Nossos policiais que eram filiados a uma
dessas legendas ou se desligaram ou desistiram de concorrer”, afirmou Boudens.
Um dos rostos policiais
mais marcados pela operação, o de Newton Ishii (o japonês da federal), não estará
nas eleições deste ano. Apesar de ter se filiado ao Patriota, do Paraná, e ter
recebido diversos convites, o agente aposentado decidiu não se candidatar neste
ano. Diz que sua função é orientar os candidatos, por meio de palestras que
profere.
Na eleição passada, de
2016, ao menos dois policiais federais já tinham se aproveitado da onda Lava
Jato para se apresentarem como políticos. Ambos se elegeram vereadores em Campo
Grande (André Salineiro, do PSDB) e em Três Lagoas (Renee Araújo, do PSD), no
Mato Grosso do Sul. Agora, pretendem fazer uma “dobradinha” para tentarem
chegar à Assembleia e à Câmara. “No legislativo o policial tenta levar a
experiência que ele teve na rua”, completou Boudens.
Ao contrário dos policiais,
os magistrados não são tão organizados enquanto classe. Depois que desistiram
do Judiciário, apenas tiveram reuniões esporádicas com seus colegas e as
entidades que os representam. Ainda assim, tentam usar suas experiências como
profissionais que sentenciaram grandes criminosos para se elegerem. Um dos
exemplos é Odilon. Pernambucano que fez a carreira no Mato Grosso do Sul, ele é
reconhecido por decisões contrárias a narcotraficantes como Fernandinho Beira
Mar e Jorge Rafaat.
Márlon Reis, do Tocantins, foi candidato
na eleição suplementar que ocorreu no início deste mês, acabou em quinto lugar,
mas deverá colocar seu nome novamente nas urnas em outubro. Ele é um dos
autores da Lei da Ficha Limpa. Já Witzel, que presidiu a Associação dos Juízes
Federais do Rio e do Espírito Santo, teve a carreira vinculada à área de
execuções penais. Em seu discurso ensaiado costuma dizer que na política
tentará evitar os erros que costumam ser corrigidos pelo Judiciário.
No Mato Grosso, dois
ex-magistrados foram cotados para o Governo, cujo o titular é Pedro Taques (PSDB), ex-procurador de Justiça.
Mas ambos desistiram. Julier tentará uma cadeira na Câmara e Selma Arruda, no
Senado. Apesar de fugirem de comparações com a esquerda, todos esses antigos
membros do Judiciário tentam obter o mesmo sucesso que o atual governador do
Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Antes de se engajar na política partidária, ele
foi presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros e, agora, tentará a
reeleição contra o clã de José Sarney (MDB).
El
País