© PAULO LIEBERT/ESTADÃO Ensino médio é considerada a etapa mais crítica da educação básica |
Quatro em cada dez jovens de 19 anos
no País não terminaram o ensino médio. A legislação brasileira
prevê que todos devem concluir os estudos nessa etapa antes de completar
18 anos. O levantamento do Movimento Todos pela Educação, divulgado nesta
terça-feira, 18, utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD),
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Segundo o estudo, do grupo de 1,2 milhão de jovens que já
deveriam ter concluído toda a educação básica, 62% (744 mil) nem
frequentam mais a escola.
O levantamento mostra que,
nos últimos sete anos, o País avançou, mas lentamente, em conseguir que mais
jovens concluam os estudos dessa etapa até os 19 anos. Em 2012, 51,7% dos
brasileiros dessa idade haviam finalizado o ensino médio - em 2018, o foi de 63,5%.
"Embora o Brasil tenha avançado no acesso, ainda falha em garantir
qualidade. Por isso, estamos perdendo os jovens no meio do caminho. Avançamos
muito devagar diante de um patamar tão preocupante", diz Olavo Nogueira
Filho, diretor do Todos.
Ele ressalta que os dados
mostram cenário preocupante, em que o abandono e o insucesso escolar
(reprovação) começam já no ensino fundamental (do 1º ao 9º ano). É nessa etapa
que o Brasil menos avançou: a taxa de concluintes passou de 68,6%, em 2012,
para 75,8% agora. Dos 744 mil jovens de 19 anos que não vão mais à escola, 55%
pararam de estudar antes mesmo de chegar ao ensino médio.
É o caso de Suellen
Oliveira, de 17 anos, que parou de estudar este ano, ainda no ensino
fundamental, depois de ter um filho. A adolescente, moradora do Jardim Romano,
zona leste de São Paulo, conta que, mesmo antes da gravidez, já não via sentido nas aulas.
“Eu tirava notas baixas, o conteúdo não entrava na minha mente. Quando descobri
que estava grávida, já nem queria ir mais e parei”, afirma. “Mas agora quero
voltar a estudar para arrumar um serviço e cuidar do meu filho.”
Disparidade.
Adolescentes negros e das
área rurais do País apresentam taxas de conclusão mais baixas do que as de
jovens brancos e de regiões urbanas. No fundamental, a diferença entre negros e
brancos é de 10,4 pontos porcentuais, e entre jovens de áreas rurais e urbanas,
12 pontos. No ensino médio, o abismo se amplia para 19,8 e 19 pontos, respectivamente.
Para Nogueira, a reforma do
ensino médio e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que
define o que deve ser ensinado em cada ano, são duas políticas nacionais que
podem ajudar a mudar o quadro. “Sem esquecer que a condição necessária para o
sucesso das políticas é valorizar o professor”.
Kátia Smole, secretária de
Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), destaca a
necessidade de atenção ao ensino fundamental. “Distorções importantes começam
nessa fase, principalmente pela repetência. O País precisa cuidar para que todo
jovem aprenda o que é certo na idade certa e evitar a retenção que leva ao
abandono.” Para ela, a continuidade na implementação da BNCC e da reforma do
ensino médio é importante para orientar professores e gestores no que deve ser
ensinado e tornar a escola mais atrativa.
Fora
da escola.
Cerca de 1,2 milhão de
jovens de 19 anos não concluiu o ensino médio. Apenas 38% deles ainda continuam
estudando. O restante desses adolescentes deixou de frequentar a escola, sendo
que a maioria (55%) abandonou os estudos antes mesmo de terminar o ensino fundamental
(do 1º ao 9º ano).
Estadão