© ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL - 28/11/2013 Queimadas na Amazônia, 60% acima da média dos últimos 3 anos, estão ligadas a desmatamento |
O Observatório do Clima, grupo que reúne cerca de 50
organizações não governamentais do País, reagiu às insinuações feitas hoje pelo
presidente Jair Bolsonaro – de que ONGs estariam envolvidas em relação
às queimadas da Amazônia – e afirmou
que o recorde de focos de incêndio observados neste ano é apenas “o sintoma
mais visível da antipolítica ambiental do governo de Jair Bolsonaro”.
Em nota
divulgada à imprensa, a coordenação do OC pontuou que as ações do governo
federal contribuíram para o aumento do desmatamento na região e que “o fogo
reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de
todos os brasileiros, com a saúde da população amazônica e com o clima do
planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela
alimentadas, num círculo vicioso”.
O número de queimadas em todo o Brasil neste
ano já é o mais alto dos últimos sete anos,
conforme mostrou o Estado na
segunda-feira. Desde 1.º de janeiro até esta terça-feira, 20, foram
contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano
passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), que contabiliza esses
dados desde 2013.
Um pouco mais da metade
(52,6%) desses focos vem ocorrendo na Amazônia, com o Mato Grosso na liderança.
As queimadas já superam em 8% o recorde de 2016, um ano de extrema seca, que
tinha registrado 68.484 focos no mesmo intervalo de tempo.
Considerando apenas o
bioma Amazônia, eram 39.033 focos de calor até o dia 20 – alta de 140% em
relação ao ano passado e de 70% em relação à média dos três anos anteriores.
“Dois Estados criticamente atingidos, Rondônia e Acre, registram emergência de
saúde devido à poluição do ar. A pluma de fumaça atingiu a cidade de São Paulo
e várias outras no Centro-Sul do país”, escreve a organização.
A carta lembra nota
técnica divulgada nesta terça-feira, 20, pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam),
que revelou que a estiagem observada neste ano na região não explica o problema.
“Neste ano, o bioma Amazônia viu menos dias consecutivos sem chuva do que a
média entre 2016 e 2018: menos de 20 contra mais de 30, respectivamente. A
análise de dados do Ipam para o bioma Amazônia mostra que o fator que melhor
explica o aumento nos focos de calor é o desmatamento. Os dez municípios
mais desmatados em 2019 são também os dez que mais queimaram na região”,
pontua.
“Desde que assumiram,
Bolsonaro e (Ricardo) Salles têm se dedicado a
desmontar as estruturas de governança ambiental e os órgãos de fiscalização.
Extinguiram o órgão responsável pelos planos de controle do desmatamento na
Amazônia e no Cerrado, sem ter até hoje apresentado nenhum plano alternativo
contra a destruição; cortaram um quarto dos recursos do Ibama; deixaram 8 de 9
superintendências regionais do órgão acéfalas até hoje, o que inibe operações
de fiscalização; e desmobilizaram o Grupo Especial de Fiscalização, a unidade
de elite do Ibama, que não foi a campo na Amazônia ainda neste ano”, continua a
organização.
“Também sinalizaram a
falta de interesse em combater o desmatamento e prover alternativas econômicas
sustentáveis para a região ao suspender o Fundo Amazônia, que banca esse tipo
de atividade. Ao mesmo tempo, empoderam criminosos ambientais, sinalizando, por
exemplo, a abertura das terras indígenas à exploração e a tolerância com a
impunidade. Alguns governos estaduais também ajudaram a acender o pavio, ao
reduzir a participação de suas PMs nas operações de fiscalização ou sinalizar
que desmatadores não seriam punidos.”
Declarações de Bolsonaro
Pela manhã, ao comentar
os dados de aumentos de queimada, Bolsonaro fez insinuações, sem mostrar
nenhuma prova, de que organizações afetadas por suspensão de repasses do Fundo Amazônia, poderiam estar
por trás das queimadas.
"O crime existe, e
isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós
tiramos dinheiro de ONGs. Dos repasses de fora, 40% ia para ONGs. Não tem mais.
Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal
está sentindo a falta do dinheiro", disse Bolsonaro, referindo-se à
suspensão de repasses, por parte do governo, de recursos do Fundo Amazônia para
projetos de combate ao desmatamento”, disse.
“Pode estar havendo, não
estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para exatamente chamar a
atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que
nós enfrentamos”, continuou.
O ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, viaja para o Mato Grosso nesta quarta, 21, justamente
para falar sobre as queimadas. Ele vai dar uma entrevista coletiva às 17h30 no
Centro Integrado de Operações Especiais no Aeroporto de Cuiabá, junto com o
governador do Estado, Mauro Mendes.
Estadão