Reprodução / IstoÉ - Marielle foi morta com nove tiros em março de 2018 |
O
delegado de Polícia Federal Hélio Khristian de Cunha Almeira, acusado de
obstruir as investigações no caso Marielle Franco, teria participado de esquema
para enterrar inquérito aberto contra a Federação das Empresas de Transportes
de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor). A informação consta da delação
do ex-presidente da entidade, Lélis Teixeira, e liga o nome do agente à Lava
Jato.
Hélio Khristian foi
denunciado em outubro pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge,
em um dos seus últimos atos no cargo.
Segundo a PGR, o delegado
teria obstruído as investigações do caso Marielle Franco em esquema montado
pelo conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos
Brazão, suspeito de ser o mandante do assassinato.
Marielle foi morta com nove
tiros em março de 2018.
No relato de Lélis Teixeira,
Hélio Khristian teria se envolvido em esquema para beneficiar a Fetranspor em
um inquérito da Delegacia Previdenciária da PF no Rio que investigava supostos
crimes cometidos no âmbito da entidade.
Em troca, o delegado teria
recebido de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões em propinas. O caso ocorreu em 2017,
afirmou o delator.
A reportagem teve acesso à
delação premiada de Lélis Teixeira, que tramita em segredo de justiça. São 25
anexos que mostram a suposta atuação de políticos, servidores da Receita e da
Polícia Federal, e magistrados do Judiciário fluminense em prol da Fetranspor
em licitações e processos contra a empresa.
Lélis Teixeira afirma ter
sido informado pelo então diretor financeiro da Rio-Ônibus, Enéas Bueno, sobre
a abertura de um inquérito na Polícia Federal solicitado pelo Ministério
Público Federal contra a Fetranspor.
A informação teria sido
repassada por um advogado, não nomeado na delação, que apontou como alvo das
investigações as empresas de Jacob Barata, o ‘Rei do Ônibus’, João Pereira e
Álvaro Lopes – todas associadas à Rio-Ônibus.
Segundo Lélis, o advogado
teria oferecido uma ‘ajuda’ que seria destinada ao delegado de Polícia Federal
responsável pelo caso. O objetivo era que o agente ‘beneficiasse as empresas
investigadas’. O delegado era Hélio Khristian, lotado na Delegacia
Previdenciária, no Rio.
O delator diz que o esquema
foi acertado por Enéas Bueno em um almoço com Hélio Khristian em um restaurante
próximo à Praça Mauá, onde, segundo soube por Bueno, o diretor teve a
‘consistência’ de tudo que ficou acordado entre o delegado e o advogado
intermediário para a ‘solução do caso’.
A propina, segundo Lélis
Teixeira, teria ficado em torno de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões, que teriam sido
quitados em parcelas. O dinheiro saiu da conta destinada a pagamentos de caixa
dois da Fetranspor e entregues ao advogado intermediário do esquema.
Marielle
Além da Lava Jato, o
delegado Hélio Khristian também é alvo de denúncia da Procuradoria-Geral da
República por supostamente obstruir as investigações sobre o assassinato de
Marielle.
Segundo a acusação movida
por Raquel Dodge, o delegado da PF teria integrado esquema que buscou
atrapalhar o caso sob ordem de Domingos Brazão, conselheiro afastado do TCE-Rio
e suposto mandante do crime. Ele nega envolvimento no caso.
De acordo com Raquel, foram
colhidas provas de que Brazão teria influído no caso para evitar que os
culpados pelos assassinatos da vereadora fossem identificados enquanto se
buscava incriminar o miliciano Orlando Araújo e o vereador Marcelo Siciliano.
A estratégia, segundo a
procuradora, foi plantar informações falsas por meio da Polícia Federal, via
Hélio Khristian, para que elas chegassem à Polícia Civil do Rio.
O plano de Brazão teria
sido realizado por cerca de um ano e envolveu, além do delegado Khristian, o
policial federal aposentado Gilberto Ribeiro da Costa, ex-funcionário do
gabinete do conselheiro, o policial militar Rodrigo Ferreira, o ‘Ferreirinha’ e
a advogada Camila Moreira Lima Nogueira.
Condenação
Khristian foi condenado em
2016 pelo Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF-2) por supostamente integrar
esquema de simulação de inquéritos para cobrança de propinas de investigados.
No ano seguinte, no
entanto, a Corte anulou a condenação após a defesa alegar que o delegado foi
condenado por um crime diferente do que foi denunciado.
A reportagem entrou em
contato por e-mail com a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro
e aguarda resposta. A corporação informou que ainda busca contato com o
delegado, que se encontra aposentado. A reportagem entrou em contato com a
defesa do delegado no caso Marielle, que não quis comentar o assunto. O espaço
está aberto a manifestações.
Agência
Estado