© Foto: Adriano Machado/Reuters |
Ao
demitir na semana passada o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS)
do Ministério da Cidadania, o presidente Jair Bolsonaro reforçou
o seu estilo de, ao dispensar um auxiliar, oferecer-lhe nova posição na
estrutura pública. Para Terra, foi sinalizada a chance de ocupar uma embaixada.
Antes dele, cinco dos seis colaboradores que deixaram o primeiro escalão também
receberam propostas semelhantes como uma espécie de “prêmio de consolação”.
A postura, segundo pessoas
próximas ao presidente, tem origem na cultura militar. Na caserna, não costuma
haver demissão. Ao dispensar os serviços de um auxiliar, o superior faz um
elogio público e o transfere para outra função, longe de seu convívio. Politicamente,
ao recorrer a este procedimento, Bolsonaro tenta evitar que ex-integrantes do
governo se tornem inimigos.
No fim da tarde da
quarta-feira, quando Terra entrou no gabinete no 3.º andar do Planalto para ser
comunicado de que seria dispensado, Bolsonaro propôs que ele assumisse o posto
de embaixador no Canadá, na Espanha ou na Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO).
A oferta foi costurada pelo
ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS),
que substituiu o colega após ser exonerado da Casa Civil. Bolsonaro não se opôs
à ideia, mas Terra a rejeitou. Se aceitasse o convite, o parlamentar deveria
abrir mão do mandato de deputado federal.
Até agora, apenas dois
ex-ministros aceitaram um novo emprego em estatais. Demitido em 6 de fevereiro
do Ministério do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto ganhou
a presidência da DataPrev (Empresa
de Tecnologia e Informações da Previdência). Ao deixar a Secretaria-Geral da
Presidência, em 2019, o general Floriano Peixoto assumiu os Correios e mantém
bom trânsito no Planalto.
O primeiro a deixar o
governo, em 2019, Gustavo Bebianno também
recebeu oferta de trabalho em outras áreas, apesar de estar envolvido em crise
com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Na ocasião, Bolsonaro ofereceu a
Bebianno, que coordenara sua campanha, a diretoria administrativa da Itaipu
Binacional. A proposta foi feita diante de Onyx e do vice-presidente Hamilton
Mourão. Diante da negativa, sondaram para as embaixadas em Portugal ou na
Itália.
“Admitir e demitir é
prerrogativa de qualquer governante. Fritar, atacar a imagem e a honra das
pessoas, não. O presidente tem essa mania, que é muito desleal. O outro padrão
de comportamento é, depois de tudo, oferecer cargos às vítimas, numa espécie de
cala-boca”, disse Bebianno. Exonerado após entrar na mira do grupo ligado ao
guru Olavo de Carvalho, o
general Carlos Alberto dos Santos Cruz também
teve a possibilidade de ganhar novo posto. Bolsonaro disse que ofereceu ao
militar “o cargo que quisesse”. Santos Cruz rejeitou. Disse que não estava em
busca de emprego.
O único que não recebeu
proposta de emprego após a demissão foi Ricardo Vélez Rodríguez,
antecessor de Abraham Weintraub na
Educação. Bolsonaro admitiu que errou entregar o ministério ao professor.
Estadão