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| O médico Miguel Sroug prevê um colapso do sistema hospitalar brasileiro no auge da pandemia |
Aos 73 anos, Miguel Srougi, um dos cirurgiões mais
celebrados do país, critica a forma como o governo federal tem conduzido a
crise do coronavírus. Para o professor da USP, nossa infraestrutura hospitalar
sinaliza que os mais vulneráveis ficarão sem atendimento no pico da pandemia.
Qual é a
sua perspectiva com a pandemia?
Eu sou
urologista, não sou um infectologista, não posso fazer uma revisão científica
profunda. Mas vemos os dados quantitativos e eles se pautaram por curvas que
vão sendo construídas por autoridades médicas do mundo inteiro, que
acompanharam a evolução da disseminação do coronavírus no mundo. Eles mostram
que, quando um país passa de cem casos, a curva que vinha subindo de forma
lenta de repente empina e, a cada dois ou três dias, dobra os números dos
casos. E nessas horas isso desorganizou todos estes países do ponto de vista de
recursos e de capacidade para atender os doentes. Aqui no Brasil a gente está
assistindo a este processo como espectador, no mundo inteiro morrendo gente,
todo mundo assustado, e o Brasil otimista.
Quais
exemplos podem servir para o Brasil?
As autoridades
não estão falando mais em número de mortos, de casos, mas em arrumar hospital,
leitos. Temos exemplos emblemáticos. Estas medidas de fazer o chamado lockdown
(proibir as pessoas de saírem às ruas) não impedem o vírus de se difundir, ela
apenas achata a curva dos casos, ela continua lentamente, e isso permite que o
sistema de saúde vá se readequando e dando apoio aos doentes. Mas estas medidas
não curam a pandemia, que só vai ser resolvida quando descobrirem remédio ou
vacina. O Brasil pôde assistir ao que ocorria na China e na Itália, e perdeu
tempo de se preparar, por exemplo, transformando fábricas para fazer
respiradores.
A
política atrapalha o combate ao coronavírus?
O problema do
Brasil está muito claro: existem no governo federal pessoas que estão flertando
com as trevas. O presidente, de forma incompetente e imoral, menosprezou a
gravidade da pandemia, julgou que com palavras poderia desviar a atenção
popular e impedir uma constatação óbvia: a ruína da assistência médica no Brasil,
principalmente a dos mais necessitados. Os grupos mais bem posicionados
socialmente vão sobreviver, pois têm mecanismos de defesa mais fortes.
O
Globo
