© Adriano Machado/Reuters Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta |
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse em entrevista coletiva na noite desta segunda-feira, 6, que não
vai deixar o cargo apesar dos atritos que vem tendo com o presidenteJair
Bolsonaro. “Nós vamos continuar, porque continuando a
gente vai enfrentar o nosso inimigo. E o nosso inimigo tem nome e sobrenome. É
a Covid-19″, disse. E repetiu uma frase que já havia usado em outras ocasiões.
“Médico não abandona paciente, e eu não vou abandonar”.
Acompanhado dos principais membros de sua
equipe, Mandetta revelou que havia a intenção de todos deixarem o governo caso
ele saísse – os membros da mesa concordaram – e disse que hoje foi “um dia
muito difícil para trabalhar” porque parte dos membros da pasta estavam
“limpando gavetas”.
As declarações foram dadas após conversa
do ministro com o presidente. Durante o dia, Bolsonaro chegou a decidir pela
sua demissão em razão de divergências, como a questão do isolamento social para
combater o coronavírus –
o presidente é contra; o ministro defende -, mas foi convencido por militares,
como os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos
(Governo), a adiar a exoneração.
Os líderes do Congresso também fizeram
chegar ao presidente que o Parlamento não iria aceitar a demissão de Mandetta em
meio ao combate à pandemia do coronavírus. “O que precisamos é de paz”,
disse Mandetta na entrevista.
Ele disse que não responderia a perguntas de jornalistas.
Durante a entrevista, Mandetta recebeu o apoio de entidades como o
Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), por meio do
presidente, Wilames Freire Bezerra, que estava no evento. A deputada federal
Carmen Zanotto (Cidadania-SC), presidente da Frente Parlamentar Mista da Saúde,
também se solidarizou com o ministro. “Queremos manifestar o apoio do Congresso
a sua pessoa, a todos os secretários, a todos da equipe. Sabemos do trabalho e
sabemos dos momentos difíceis que estamos vivendo”, disse.
A possibilidade de exoneração, no entanto, continua forte. Mandetta bateu de frente com Bolsonaro
principalmente por causa da questão da quarentena ampla, que o ministro e as
principais autoridades de saúde do mundo defendem, entre elas a Organização
Mundial da Saúde (OMS), que lidera os esforços mundiais de combate à pandemia.
Bolsonaro prefere flexibilizar o isolamento social por acreditar que a adoção
da quarentena vai “quebrar” a economia do país e provocar caos social, o que
pode ferir de morte o seu governo.
O deputado federal Osmar Terra, ex-ministro
da Cidadania, a imunologista e oncologista Nise Yamaguchi,
diretora do Instituto Avanços em Medicina, e o diretor-presidente da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, são
apontados como favoritos a ocupar o cargo. Terra, inclusive, já teria ligado
para alguns governadores para anunciar a decisão do presidente.
Terra, que foi ministro da Cidadania até
fevereiro deste ano, tem defendido nos últimos dias posição contrária à de
Mandetta na questão do isolamento social – alega que a medida não resolve e
pode prejudicar a economia, mesma tese defendida pelo presidente. Barra Torres
também pensa como Bolsonaro e chegou a acompanhá-lo no dia em que ele
cumprimentou apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada durante as
manifestações de 15 de março. Já Yamaguchi é defensora do uso da cloroquina no
tratamento do coronavírus – Bolsonaro é um entusiasta da ideia.
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