© GloboNews Agentes da Polícia Federal prendem o empresário Joesley Batista na casa do executivo, em São Paulo |
A Polícia Federal (PF) prendeu, na
manhã desta sexta-feira 9, o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, e o
vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB).
Ao todo, são dezenove alvos de mandados de prisão temporária, com previsão
inicial de cinco dias, na Operação Capitu, realizada em parceria com a Receita
Federal. Outros dois delatores da J&F, Ricardo Saud e Demilton Castro,
também foram presos.
Trata-se de um
desdobramento da Operação Lava Jato que, com base
em delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, investiga suspeitas de corrupção
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Andrade foi
ministro da Agricultura durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT),
antes de ser eleito vice na chapa do governador Fernando Pimentel (PT) em
2014. Ao todo, são 62 mandados de busca e apreensão nos estados de Minas
Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Mato Grosso.
“Esse grupo dependia de
normatizações e licenciamentos do Mapa e teria passado a pagar propina a
funcionários do alto escalão do ministério em troca de atos de ofício, que
proporcionariam ao grupo a eliminação da concorrência e de entraves à atividade
econômica, possibilitando a constituição de um monopólio de mercado”, diz nota
da PF. De acordo com as investigações, redes de supermercados e escritórios de
advocacia teriam sido utilizados para a lavagem de dinheiro do esquema.
O órgão cita a participação
de um deputado federal, que intermediava as relações entre Joesley Batista e as
lideranças do Ministério. Em delação premiada em 2017, Joesley confessou ter
pago propina a servidores da área através do ex-presidente da Câmara Eduardo
Cunha (MDB-RJ), preso desde 2016.
As investigações da PF
apontam que parte dos valores, cerca de 30 milhões de reais, foram utilizados
em campanha para a Presidência da Câmara, sendo que, desse total, 15 milhões
teriam sido direcionadas para a bancada mineira. Também em sua colaboração,
Joesley relatou ter repassado esse dinheiro para a vitória de Cunha em 2015,
que o teria repassado para subornar outros parlamentares em troca de apoio.
Na época, Andrade já não
era mais deputado federal, mas presidia o diretório estadual do MDB em Minas
Gerais. Nas eleições de 2018, o vice-governador disputou uma cadeira no
Congresso Nacional, mas não foi eleito. Seu partido não apoiou a reeleição de
Pimentel e lançou a candidatura de Adalclever Lopes (MDB), que terminou a
disputa em quarto lugar.
A PF atribui a escolha do
nome a uma interpretação feita do comportamento da personagem Capitu, do
romance Dom
Casmurro, de Machado de Assis. “[Os suspeitos] teriam praticado
atos de obstrução de justiça, prejudicando a instrução criminal, com o objetivo
de desviar a PF da linha de apuração adequada ao correto esclarecimento dos
fatos. Daí o nome da Operação, ‘Capitu’, a personagem dissimulada da obra
prima de Machado de Assis”
Em nota, o advogado André
Callegari, que defende Joesley Batista, afirmou que seu cliente é “colaborador
da Justiça e tem cumprido à risca essa função”. “Portanto, causa estranheza o
pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um
depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de
corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos
necessários”, disse. Procurado por VEJA, o governo de Minas Gerais não se
pronunciou até o momento.
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