domingo, 2 de fevereiro de 2020

Civis compraram tanta munição de tiro quanto as forças de segurança em 2019


Dados inéditos sobre a venda de munições no país apontam que os atiradores civis compraram em 2019, pela 1ª vez, a mesma quantidade que as forças de segurança pública: pelo menos 32 milhões de projéteis.

O levantamento foi feito via Lei de Acesso à Informação pelo Instituto Sou da Paz, e publicado pelo jornal O Globo neste domingo (2.fev.2020).

No ano passado, civis foram destinatários de vários decretos do presidente Jair Bolsonaro com flexibilização de regras para adquirir armas e munições. Segundo os dados obtidos pelo Globo, o volume comprado pelo grupo ainda superou em 143% o quantitativo de munições que o Exército informou ter adquirido (13,2 milhões) no ano passado.

De 2018 a 2019, as compras diretas dos atiradores subiram 17,2%, enquanto o número de projéteis adquiridos pelos órgãos de segurança pública, incluindo as secretarias de gestão prisional, caiu 14,8%.

Clubes de tiro, federações e confederações também compraram mais no ano passado em relação ao anterior: o volume subiu 30%, de 2 milhões para 2,6 milhões de munições.

reportagem destaca que a explosão na aquisição de munições por parte dos atiradores acende 1 alerta: o material adquirido pelo grupo não tem qualquer marcação de lote inscrito no cartucho. É com esse dado que investigadores podem rastrear a origem de projéteis encontrados em cenas de crime. Serve também para evitar e apurar desvios.

Pela lei, somente munições usadas pelas forças de segurança pública e pelas Forças Armadas precisam ser marcadas. Essa parcela, no entanto, representa apenas 22% do que foi colocado em circulação no país ano passado. Em 2018, esse índice era de 27%.

Em nota, o Exército informou que há estudos em andamento para ampliar a obrigatoriedade de uso de munições marcadas e que “o aumento crescente de munições compradas pelos atiradores, que não têm marcação de lote no cartucho, não traz riscos para a segurança pública, tendo em vista que, para serem atiradores registrados no Exército, é necessário ter idoneidade comprovada no processo de registro.”

O Presidente da Associação CAC Brasil (Caçadores, Atiradores e Colecionadores do Brasil), Marcelo Midaglia Resende, afirma que o grupo usa muita munição porque faz treinos intensivos —ao menos os que atuam como atletas de alto rendimento, que ele calcula em 35% do total.

“Tem policial que em 30 anos não deu 1 disparo, enquanto o CAC precisa treinar sempre. Para ter determinadas autorizações no Exército, o atirador tem que comprovar que praticou ao menos 8 vezes no ano”.

Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na área de segurança, diz que os decretos de Bolsonaro sobre armas —ao menos 8 ao longo de 2019, dos quais 4 estão em vigor— têm relação com o aumento de munições colocadas em circulação no país.

“Sem contar o risco de essas armas e munições que vão se proliferar caírem, no futuro, no mercado ilegal. Estudos mostram que boa parte das armas legais acabaram nas mãos de criminosos porque são furtadas, roubadas”, explica.

Poder 360

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