terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Briga de cachorro grande


O jornalista José Roberto Guzzo escreveu – e ele está coberto de razão – que um dos maiores, senão o maior, responsável pela desigualdade social do Brasil é o Estado brasileiro.
E por mais que taxar grandes fortunas e cobrar dívidas sejam caminhos atraentes para muita gente, nada substitui a tarefa de reconduzir esse aparato estatal para a caverna de onde ele saiu, mostrengo cuspidor de fogo que ele é.
Um cálculo recente mostra que os impostos sugam do País R$ 5 milhões por minuto, para atingir todos os muitos dígitos necessários no final do ano. Seria uma exorbitância se parte disso não custeasse, por exemplo, os R$ 30 milhões gastos por dia pelo Congresso Nacional e os bilhões consumidos todos os meses pelas assembleias estaduais, tribunais de Justiça, câmaras municipais e por aí vai.
Toda essa montanha, esse Monte Fuji de dinheiro, paga os minguados programas sociais, financia a falta de medicamentos nos postos de saúde e as estruturas desabando nas escolas, mas, principalmente, é usada para nutrir também uma especialíssima casta de altos salários de servidores e aposentados – uma minoria em sua espécie -, muitos deles mantidos com benefícios para lá de especiais.
Os agregados, como as famosas viúvas de militares, engordam esse festival de sinecuras, mas ainda são uma minoria, já que, na composição dos chamados direitos adquiridos, muitas famílias foram incluídas lá atrás, desde que o Rio de Janeiro se mudou de malas e cuias para Brasília, democratizando privilégios em todos os estados a partir de mudanças encaminhadas pelos próprios governadores, cujos sucessores hoje enfrentam a crise fiscal.
Falar em retirada de “direitos” dessa gente, agora, é comprar briga com cachorro grande.
Se Bolsonaro mantiver princípios liberais que todos sabem pertencer ao ministro Paulo Guedes, e não a ele, será preciso caminhar rapidamente, e com coragem, as reformas pendentes como a tributária e a administrativa.
O fato de o País não suportar mais o monstro criado pelas piores tradições brasileiras desde o Império é do que se trata.
Sem entrar no mérito das etapas recentes pelas quais o Brasil passou, entre elas o impeachment de Dilma Rousseff, uma coisa parece intocada: a permanente desigualdade que obriga cada brasileiro a trabalhar seis meses por ano para pagar essa conta.
Agora RN

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